O agravamento da degradação do solo causada pela atividade humana está minando o bem-estar de 40% da humanidade, levando espécies à extinção e intensificando as mudanças climáticas. É também um dos principais motivos para a migração humana em massa e o aumento de conflitos, segundo a primeira avaliação mundial abrangente sobre degradação e restauração da terra. Os perigos dessa degradação (que custaram o equivalente a cerca de 10% do produto bruto anual mundial em 2010 através da perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos) e uma lista de opções corretivas são detalhados para os formuladores de políticas em um relatório trienal feito por mais de 100 especialistas de 45 países, lançado em março.
A obra foi produzida pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), que tem 129 estados membros e quatro parceiros institucionais da ONU: Unesco, ONU Ambiente (ex-Pnuma), FAO e Pnude. “A degradação da terra, a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas são três faces diferentes do mesmo desafio central: o impacto cada vez mais perigoso de nossas escolhas na saúde de nosso ambiente natural”, afirma Sir Robert Watson, presidente do IPBES. “Não podemos nos dar ao luxo de enfrentar qualquer uma dessas três ameaças isoladamente – cada uma delas merece a mais alta prioridade política e deve ser abordada em conjunto.”
A rápida expansão e o manejo insustentável de terras agrícolas e pastagens constituem o mais amplo indicador global direto da degradação da terra, causando perda significativa de biodiversidade e serviços ecossistêmicos – segurança alimentar, purificação da água, fornecimento de energia e outras contribuições da natureza essenciais às pessoas. Isso atingiu níveis críticos em muitas partes do mundo, diz o relatório. Segundo os autores, a degradação da terra se revela de várias formas: abandono da terra, redução das populações de espécies silvestres, perdas de solo, da saúde do solo, de pradarias e de água doce, bem como desmatamento.
Consumismo
Os impulsionadores subjacentes da degradação da terra, segundo o relatório, são os estilos de vida de alto consumo nos países mais desenvolvidos, aliados ao aumento do consumo nas economias emergentes e em desenvolvimento. O alto e crescente consumo per capita, amplificado pelo crescimento contínuo da população em muitas partes do mundo, pode levar a níveis insustentáveis de expansão agrícola, uso de recursos naturais e extração mineral e urbanização – em geral levando a maiores níveis de degradação da terra.
Em 2014, mais de 1,5 bilhão de hectares de ecossistemas naturais haviam sido convertidos em terras agrícolas. Menos de 25% da superfície da Terra escapou de impactos substanciais da atividade humana – e até 2050, os especialistas do IPBES estimam que esse índice caia para menos de 10%. As terras de cultivo e pastagens cobrem agora mais de um terço da superfície terrestre, com a recente perda de habitats nativos, como florestas, pradarias e zonas úmidas, concentrados em alguns dos ecossistemas mais ricos em espécies do planeta. Pode-se evitar a expansão agrícola adicional em habitats nativos por meio de aumentos de produtividade nas terras agrícolas existentes, mudanças para dietas menos degradantes (como aquelas com mais vegetais e menos proteína animal de fontes insustentáveis) e reduções na perda e no desperdício de alimentos.
Dada a importância das funções de absorção e armazenamento de carbono do solo, prevenir, reduzir e reverter a degradação da terra poderia propiciar mais de um terço das atividades mais efetivas de mitigação de gases-estufa até 2030 para manter o aquecimento global sob o limite de 2°C fixado no Acordo de Paris, aumentar a segurança alimentar e hídrica e contribuir para evitar conflitos e migrações.
Há também vários exemplos bem-sucedidos de restauração de terras. Por exemplo, práticas e técnicas testadas são implementadas em muitas Reservas da Biosfera, áreas que promovem soluções que conciliam a conservação da biodiversidade com seu uso sustentável.